Título: O mestre e Margarida
Autor: Mikhail Bulgákov
Nº de Páginas: 456
Editora: Afaguara
Olá, pessoas leitoras! Hoje, trago a vocês uma indicação no mínimo... interessante.
Muitos já sabem que sou fã de clássicos, apesar de ler de tudo um pouco. E ano retrasado, eu recebi uma indicação de um aluno meu, do 3º ano do ensino médio, para o qual leciono Literatura. Trata-se de um clássico russo, que segundo minhas pesquisas, foi considerado um dos melhores romances da Literatura Russa.
Porém, notei, vagando pelo Skoob e outras fontes de leitores, que esse clássico não é tão conhecido no Brasil, infelizmente. Resolvi ler e claro: ADOREI. Foi com certeza uma das melhores leituras de minha vidinha ordinária e deixará marcas literárias para sempre.
A ressaca foi brava, mas valeu a pena. Então, espero que "fique a dica" e vocês possam desfrutar desse néctar dos deuses, escrito por Mikhail Bulgákov.
"O mestre e Margarida" é um livro ambientado na Moscou soviética, em meados dos anos 20. Bulgákov, como podem imaginar, sofreu com esse livro. Houveram quatro tentativas de terminá-lo, e, após sua morte, apenas sua esposa o conseguiu. Mas enfim, vamos à trama!
O enredo traz Woland, que é ninguém menos que o Diabo, visitando Moscou. Com ele, andavam Koroviev (ou Faggot), Behemot - meu personagem preferido, que é um gato gigante que fala e tem uma personalidade um tanto forte -, Azazell, Abadon e Hella, uma bruxa. Essa trupe visita vários personagens e lugares na Rússia, deixando um rastro de bagunça e mistério.
F pequeno spoiler:
Uma das passagens mais interessantes é a parte do Teatro de Variedades, onde o autor critica fortemente a ganância das pessoas e suas frivolidades. Nesse show, Woland e sua trupe fazem um espetáculo que de início, foi anunciado como de magia negra, desacreditado, portanto do mágico apresentador e do público:
"- Agora, tratanto de assunto mais importante: mudaram os moscovitas por dentro?
- Uma pergunta realmente vital, senhor."
Woland começa com pequenos truques de mágica para chamar a atenção da platéia. Cartas, desaparecimentos... logo depois, caem papéis brancos do teto na platéia. Esses papéis tornaram-se dinheiro aos olhos de todos, que rapidamente, começaram a guardar e ficar maravilhados com o número.
O mágico da casa que estava apresentando Woland e seu grupo, ficou irritado com a repercussão do número e chiou com os apresentantes. Uma voz então gritou "- corte a cabeça dele!" e Behemot, o gato, cortou-lhe a cabeça que continuava a falar, fora de seu corpo. O mágico pede misericórdia e diz que não vai mais dizer asneiras; então Faggot pergunta ao público que decisão tomar e as pessoas pedem para perdoá-lo.
Woland faz uma reflexão sobre a humanidade, dizendo que as pessoas amam demais o dinheiro, seja ele qual for, mas ainda tem um pouco de compaixão dentro de si.
Logo após o ocorrido, e sem o mágico para importunar, Faggot anunciou que teriam uma loja para as senhoras da plateia, bem ali no palco. E, num passe de mágica, apareceram tapetes persas, vestidos parisienses, chapéus e sapatos caros e da moda; perfumes, bolsas de couro, ceda, maquiagem...
Faggot anunciou que eles iriam trocar o que as moças estavam vestindo - geralmente, vestidos velhos e usados - por todos aqueles apetrechos e roupas caras. As mulheres foram à loucura e subiram ao palco, trocando suas peças velhas pelas novas ali expostas.
Depois que as senhoras se vestiram do que havia de melhor, Faggot encerrou o espetáculo. Mas um homem chamado Arkady Appolonovich, acompanhado de sua esposa e uma prima mais nova, exigiu que houvesse uma explicação para os "truques". Faggot respondeu que não havia explicação: tudo estava muito claro. Arkady disse que a plateia estava preocupada com o mágico e que eles também gostariam de uma explicação para os números. Eis uma outra crítica, pois o povo não exigiu nenhuma explicação do dinheiro ganho e das roupas novas, porque haveria de querer explicações sobre o mágico?
Faggot se livra de Arkady o desmascarando na frente de todo o público acerca da traição cometida com uma jovem atriz, o que enfureceu sua prima (?), que lhe deu sombrinhadas na cabeça. O espetáculo acabou.
Obviamente, as roupas, os apetrechos, o dinheiro... foi tudo ilusão, tudo sumiu. O grande truque de Woland não foi a magia negra, e sim mostrar a ganância da sociedade.
O mais irônico nisso tudo é que o Diabo é o moralista da história (risos).
F fim do spoiler.
A obra traz consigo também críticas ácidas ao governo. Bulgákov chegou a queimar o primeiro manuscrito, com medo da censura, mas não retirou as críticas - subjetivas ou não.
Durante toda a história, ele traz humor negro e reflexões que, apesar de serem contextualizadas na Rússia soviética de Stálin, são praticamente atemporais. Muitas de suas críticas podem ser facilmente enquadradas em sistemas e governos que conhecemos hoje.
Além do Diabo e sua trupe "causando" Rússia afora, temos dois outros núcleos na história: Jesus Cristo, que na história é chamado de Jesua (ou Yeshua) Ha-Nozri e Pôncio Pilatos. Esse núcleo surgiu do livro escrito pelo nosso personagem principal, que é o Mestre.
O Mestre é o outro núcleo, que conta a sua história (dentro de um hospício) a Bezdomni (que aparece no início do livro, sendo vítima de Woland e sua gangue). Margarida (ou Margarita), sua amante, faz parte desse núcleo, se tornando atração principal na segunda parte do livro, juntamente com o romance sobre Jesus e Pilatos.
A segunda parte do livro é a mais marcante e densa, sendo a primeira marcada pelas críticas, humor e histórias insanas da galera do Diabo. A segunda retrata o livro do Mestre sobre Jesus e Pilatos, que é uma história interessantíssima com diálogos incríveis e totalmente cativantes, que com certeza, conquistaram Margarida, que luta tão fortemente para que o romance seja preservado, uma vez que o Mestre surta por conta de críticas feitas a seu livro (por isso o hospício) e não quer mais a sua obra-prima.
Azazello encontra-se com Margarida e propõe que ela reencontre seu amado Mestre. Nessa parte, o livro prende totalmente o leitor, porque acontecem inúmeros fatos loucos, como Margarida passar um creme e virar uma bruxa nua e transparente, que voa em uma vassoura e destrói o apartamento de um dos críticos que desatinaram o Mestre (existe um clipe
[fan-made] BEEEM FIEL de uma música da banda Franz Ferdinand com essa passagem; inclusive, a letra da música é a respeito dessa passagem. Caso te interesse, eis o link:
"Love and Destroy" - Franz Ferdinand). Margarida também aceita ser anfitriã ao lado de Woland no "Baile dos Cem Reis", que é um tanto bizarro.
Quando tudo termina, ela espera que Woland lhe deixe ver o mestre, mas fica com medo de pedir. Então, frustrada, ela vai embora, mas Woland a surpreeende, claro.
O final da história é o mais surpreendente e marcante possível, mas não quero revelar nada a respeito, além que o próprio Jesus Cristo leu o romance do Mestre e pede que Mateus Levi vá até Woland lhe dar um recado, que será o desfecho da trama (oooh...).
Espero que você, querido leitor, tenha gostado e ficado um pouco intrigado a respeito da história. E, claro, na primeira oportunidade: leia o livro. Dou minha palavra de que você irá amar. ;)
F AH! Só uma curiosidade: Além da música do videoclip aqui citado, esse romance inspirou também outras duas grandes bandas: os Rolling Stones comporam "Sympathy for the Devil", graaande clássico, inspirados em Woland, que, querendo ou não, é digno de simpatia mesmo, pois é um diabo e tanto! haha
E a ilustre banda Pearl Jam compôs a música "Pilate" em homenagem à obra e aos diálogos de Pôncio Pilatos com Jesus, que acreditem em mim, pelo amor de Jesus, são INCRÍVEIS!
Até a próxima. ;)