Capítulo 09 - Fuga da Morte
Cássio já não esperava pela salvação. Tinha pentes, cartuchos... Todavia teria que parar em algum canto para recarregar suas armas. Parar à medida que zumbis mantinham-se em seu encalço era angustiante. Aterrorizante. Medonho. Não imaginava que encontraria sua morte numa ilha longe de sua terra natal. Longe das pessoas que amava. Sua história naquele momento não era tão importante quanto os acontecimentos que o levou até aquele presente momento. Seu peso também não ajudava a ter um preparo físico digno de atleta, entretanto aprendeu desde o início do apocalipse uma coisa: Somente os mais adaptados à situação, os mais inteligentes sobreviveriam a uma horda de milhares de sedentos mortos-vivos. Não que a força não fosse importante, ela era essencial. O problema estava em como utilizar sua força para sobreviver num mundo já fadado ao fracasso.
Encostado na parede e arfando. Ele conseguiu um espaço de tempo para recarregar suas armas. Duas escopetas totalizavam quatorze tiros – sete para cada. Uma pistola simples que detinha dezesseis tiros além de diversas armas brancas completavam seu arsenal. Teria que deixar tudo àquilo para trás se quisesse realmente correr a fim de escapar. Até pensara em abandonar seu tênis surrado e isto foi prova cabível de que o cansaço já batera a sua porta. A falta de oxigenação o fazia pensar lentamente e ficar sem ideias cujo objetivo era livrá-lo daquela situação...
Retirou binóculos de suas coisas e observou ao longe uma garota de blusa vermelha lutando na ponte em direção a ilha. Vários golpes espaçados com seu bastão empurrando e jogando diversos mortos-vivos na água. Bem como observou a aproximação intensa de duas hordas caminhando em sua direção. Poderia dar a volta pela rua adjacente a principal e tentar ajudar a garota a qual ele viera salvar anteriormente. As chances eram inversas e contrárias.
– Se até a Pâmela, uma garota que poderia fugir, poderia ter uma vida mais tranquila no continente está lutando contra todas as adversidades – ele murmurou para si, como se pegasse coragem por suas próprias palavras – Quem sou eu para desistir agora?
Outrora eles realmente reviraram a ilha a procura de um barco e não encontraram. Cássio queria atravessar nadando se possível, mas morreria com todas aquelas roupas e suprimentos. Morreria também de exaustão. Então, como fazer para escapar de seu destino cruel?
À medida que se está fazendo uma ação, ou está trabalhando em algo que lhe prenda a atenção, as horas passam mais rapidamente. O paraense ousou a olhar em seu relógio e tudo aquilo passara em incríveis seis horas. Ele decidiu checar o horário porque vira realmente o sol nascer no horizonte. Um cenário que nas condições naturais de temperatura e pressão – uma gíria para dizer que em condições normais – seria um espetáculo belo. Mas que naquele momento parecia que o sol veio testemunhar a morte de mais um guerreiro.
Pam estava cansando. Não era uma super-heroína. O bastão já pesava. Mexer os pés para chutes e pulos que já se encontrava difícil ficara impossível e ela ainda não tinha atingido o meio da ponte... O gordinho deu a volta no prédio onde tomara fôlego e retirou das costas um taco de golfe utilizado por ele nas horas de maior necessidade. Iria usar armas brancas naquele momento e deixou cair tudo o que lhe pesava incluindo uma das escopetas. Era tudo ou nada. Se realmente existisse um deus agora era a hora de ele aparecer ou mandar um recado...
Foi nessa hora que a garota viu no horizonte um posto explodindo. Cláudio havia feito sua parte na missão. Os barulhos diversos causados pelas explosões fizeram os mortos-vivos pararem suas ações. Por quê? Barulho só fora instantâneo, mas por que eles pararam? A resposta vinha do mar do norte. O mar aberto que se seguia acima de sua região. Um grande Iate fazia um imenso barulho enquanto aproximava-se da ilha em que o paraense ainda não havia saído...
Na frente deste existia uma pessoa. Um homem magro tocando uma flauta. A explosão, o barulho gigantesco de uma embarcação. A flauta daquele rapaz. Tudo isso fizera os zumbis pararem se de locomover por um instante. Pam caiu em exaustão, desacordada. Cássio só fez correr matando todos os mortos-vivos que entravam em seu caminho. O iate continuava a apitar fortemente, a música era intensificada por autofalantes postos na popa deste. E com isto, o barulho intenso fizera uma cena impressionante acontecer na baía que cercava a cidade de Vitória e a Ilha do Frade.
Zumbis caíram de cabeça na água e afundaram... Um. Dois. Três. Milhares de mortos-vivos deram passos a sua derrocada. Deram passos seguindo uma melodia de morte tocada por aquele jovem o qual o paraense demorara a reconhecer. Poderia estar diferente. Com roupas diferentes, mas o chapéu característico era impossível de não lhe distinguir...
– Vini...
Cássio não disse mais nada e ajoelhou-se sorrindo. Várias hordas inteiras caindo como se fossem formigas afogando ao encostar da água. A pressão iria matá-los lá no fundo, iria estourá-los e o sangue talvez subisse a superfície ou seria dissipado pela imensidão das águas salgadas. Toda a região fora limpa e não havia sinal nenhum mais de alguma raça asquerosa e canibal. O jovem baiano parou de tocar e fora para dentro do Iate fazê-lo parar de apitar.
Alguém trouxe um milagre... Cássio então tombou e não vira absolutamente nada. O sol não viera para assistir a morte de guerreiros, veio para avisar da salvação destes perante um mundo já esquecido.
***
Julia estava de camisola. Era estranho até, mas ela sentia-se mais leve a lutar por sua honra e sobrevivência naquele momento. Não interessava nada naquele momento a não ser dar uma lição naquele descendente de indígena.
– Sua vadia! – vociferou o homem – Como ousa me derrubar quando estamos enfrentando uma ameaça maior que eu ou você!
– Foi isso que eu te disse quando você me prendeu – respondeu Júlia respirando intensamente – mas agora eu estou pouco me lixando se você vive ou morre. Um ser humano como você não deve viver, Alberto.
– E uma divergente como você também não. És perigosa demais.
Ele retirou de sua jaqueta um canivete e começou a agitar verticalmente, como se soubesse o que estava fazendo. Jaqueline ainda caída recordou sua consciência à medida que via mortos-vivos se jogando por cima de pessoas da antiga resistência, daquela que se dizia a sociedade perfeita. A contagem de mortos somente subia. Uma chuva passou a cair como se o céu chorasse por aquele momento. Um senso distorcido de justiça havia crescido nas duas, contudo era mais bem visto em Júlia. Uma anti-heroína dos gibis e quadrinhos. Um bandido como Alberto era melhor morto porque para ela não existia redenção a uma pessoa que se utilizara de crianças com o intuito de salvar seus próprios parceiros da morte.
O índio forte correu e tentou um chute o qual a carioca esquivou-se dando uns passos para trás. Então ele tentou uma estocada com o canivete, mas a garota girou para o lado e deu um chute em seu pulso e ele acabou largando sua arma. Não desistiu. Tentou golpes espaçados só que a loira que fora nocauteada já havia tirado seu senso de direção e a líder do grupo aproveitou isso e desferiu um chute nas virilhas. Ele curvou-se para frente.
– Agora... Deixarei você para os porcos.
Ela inclinou a cabeça dele para cima e desferiu uma forte joelhada em seu rosto o nocauteando imediatamente. Jaque – que via tudo fragilizada sorriu – enquanto que Júlia veio em sua direção imediatamente e a ajudou. Em pé e sorridente, a mulher nascida em Volta Redonda pegou as armas espalhadas no chão e passou a dar passos rápidos.
– Eu ainda estou cansada e abatida Ju! – reclamou a loira potiguar com a mão em seu estômago.
– Nossa sobrevivência depende disso Jaque.
Agora elas tinham uma nova missão: Fugir tanto de uma horda que queriam sua pele viva ou de uma resistência que não aceitava que elas estivessem viva.
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