Capítulo 13 - Dois Meses
Nesses dois meses não havia praticamente informação do que aconteceu com a organização social que liderava parte da capital carioca. Após a explosão orquestrada por Elaine e Carla com o intuito de resgatar Júlia das garras do grupo encabeçado por uma mulher chamada Juno, todos os membros dissidentes aproveitaram para fugir. Seja para o norte, seja ao interior, seja a alguns lugares marítimos do estado mais falado do Brasil. As divergentes junto com sua equipe notaram a falta da catarinense – a mesma que fora sequestrada por Anderson – e foram a sua procura por incessantes três dias e três noites. Percebendo a busca inútil, Júlia ordenou que eles fossem para o interior do território.
Dois meses se passaram de caminhada. Elas encontraram outros sobreviventes em seu caminho e o grupo ficou mais encorpado ainda que a morte de Tuco e de sua esposa pairassem como um lembrete que não poderiam abaixar a guarda de nenhum jeito. Uma coisa perceptível a qualquer um que os encontrasse era a faixa etária do grupo. A mais velha tinha vinte e dois anos. A própria líder tinha idade na casa dos vinte e muitas crianças e pré-adolescentes caminhavam entre eles. Cada um com diferentes histórias, porém no geral basicamente todos tinham um ponto de partida: Logo após o evento que mudou o mundo, eles perderam os pais e precisaram sobreviver – a maioria sozinha. Isso fazia Júlia ter algumas ideias sobre o vírus, todavia teria que conversar com quem sabia mais a fim de ter alguma certeza.
Espalhando a morte deles aos quatro cantos, o grupo de cerca de vinte pessoas chegaram a uma cidade histórica de Minas Gerais. Passaram por Ouro Preto e sempre seguiram a Rodovia dos Inconfidentes contornando o Parque Estadual do Itacolomi até chegar à cidade de Mariana, em Minas Gerais. Jaqueline lembrou que aquela cidade era a de Isadora e sua irmã Fernanda, e isso fez com que todos acampassem por um tempo naquela localidade.
Mariana basicamente era uma cidade cujas ruas eram estreitas e cheias de ladeiras. A movimentação era difícil e facilmente se podiam ver pessoas arfando por não estar à acostumada a subir ou descer morros. A líder daquele grupo não estava gostando do que vendo, pois uma horda aniquilaria facilmente um grupo grande como aquele, levando em conta os poucos espaços a se escapar...
– Jaque – disse Júlia parando em uma rua chamada Dom Viçoso – O que acha de fazermos uma base aqui? Ao menos para ver o que aconteceu com a Isa?
– Não sei Ju – disse a loira amarrando novamente seus cabelos e colocando soqueiras em suas mãos – Mas se quiser averiguar a situação sou amplamente a favor dessa decisão.
– Daqui dá para ver uma igreja... Vamos para lá e montar uma base de operações então...
Nesse momento, Carla e mais dois homens encontrados no meio do caminho chegaram a próximo das duas.
– Por que paramos por aqui? – indagou a mulher.
– Queremos procurar pela Isa.
– Mas o que te garante que a garota não tenha morrido no apocalipse? – um dos homens cruzou os braços e questionou a decisão – Você não está pondo nosso grupo em risco Júlia?
– Pode ser. Só que aqui temos um risco e uma vantagem – observou enquanto caminhava apontando aos lugares – Se uma horda atacar só tem como ir à frente, entretanto em compensação, os próprios zumbis podem chocar-se uns com os outros dado espaço curto bem como dificuldades a subir graças a características da cidade de ladeiras. Quero verificar aquela igreja e fazê-la como base de nossas operações da cidade.
– Quantos dias você quer ficar? – perguntou outro rapaz, menor, contudo um pouco mais forte que o mais alto.
– No máximo uma semana – respondeu rapidamente a garota.
– Então iremos adquirir suprimentos e algumas roupas novas enquanto vocês procuram sua amiga, certo?
– Exatamente...
A resposta de Júlia deixou os dois rapazes mais tranquilos. Eles só queriam ter certeza que eles poderiam ficar em segurança à medida que elas procurassem por Isa.
– E como se dará isso? – Carla perguntou olhando para os dois homens se aproximando do grupo a dar as boas novas.
– Preciso arranjar um mapa da cidade. E a partir daí concentramos as buscas. Não precisa ser muita gente, só nós duas mesmo. Até por que a cidade não é muito grande e só nós três a conhecemos ainda de forma indireta.
– Ju – disse Jaqueline se alongando – Vamos logo antes que escureça e fique quase impossível de achá-los.
– Tudo bem.
Ela assobiou e o grupo a seguiu. O local escolhido a base de operações seria uma das diversas igrejas da cidade: A de São Francisco de Assis.
***
Nesses dois meses de sobrevivência, Isa e Elileudo passaram a treinar exaustivamente por si só. Uso de armas brancas, tiros com armas de fogo e frequentemente se jogavam em hordas de zumbis com um objetivo simples de aniquilá-los. Sabiam que não era o suficiente justamente visto que além desse inimigo da raça humana, as pessoas com uma consciência contorcida do mundo em que viviam eram os piores inimigos. O que acontecia com uma pessoa que simplesmente queria dominação no meio de tudo aquilo? Todos os humanos deveriam se unir com a intenção da sobrevivência. Mas a pior droga para o ser humano era uma que não se via ou sentia. Simplesmente a ânsia pelo poder liderava muitos humanos a enfrentar os outros humanos tendo os mortos-vivos sempre como desculpa ou como “aliado”. Juno fazia isso. Sacrificava pessoas sem poder ou que contestava sua autoridade. Apesar de que Ricardo seria a pessoa por trás desses planos, ela não fazia nada. E isso, ao chegar aos ouvidos dos dois, deixou o casal incólume de raiva.
Eli, após acordar depois do ataque de um desconhecido para eles, viu uma Isa com os olhos diferentes. Uma mulher que faria de tudo para matar aqueles que entrassem naquela casa. Dias se passaram e após exaurir os suprimentos da casa saíram com certo cuidado pela porta dos fundos. Seguindo ruas e ladeiras, chegaram a Catedral da Sé na cidade e pararam ali com o intuito de recuperar suas forças e comida. Isa veio em silêncio toda a viagem e a noite, Elileudo percebia que ela saia e sempre voltava cheia de sangue, como se tivesse fazendo justiça por seus companheiros caídos. Com a experiência vem certa habilidade, só que ele temia a mudança de sua companheira.
E assim dois meses voaram. Eli mais acompanhava Isadora para certificar-se de que ela não morreria. Tinha medo que ela fizesse alguma besteira...
– Isa – o garoto que nascera em Quixadá iniciou uma conversa com a mineira da cidade que deitava olhando para o teto da catedral – Temos que nos encontrar com o Vini. Se duvidar ele já está a nossa espera.
– Tudo bem... Mas eu passei dois meses procurando aquele homem e nem uma única pista. Vim descontando minha raiva nos mortos vivos da cidade, mas mesmo assim ela não passa.
– Isso é bom. – Elileudo continuou a dizer enquanto caminhava em direção da entrada – E se você não sabe o Vini me contou um segredo antes de nos deixar de falarmos.
– Qual?
– Talvez ele tenha conhecimento de como se faz a cura...
– Sério? – Isadora imediatamente levantou-se – Isso é verdade?
– Só podemos saber se formos nos encontrar com ele.
– Dois meses! Dois! E você não me contou isso!
– Contei... – o cearense ficou cabisbaixo – você que não quis ouvir.
– O que?
De repente a catedral foi aberta, porém Isa reconheceu a voz da pessoa que perguntara...
– Tem alguém aqui?
Era a inconfundível voz de Júlia Dalboni. Todavia, a felicidade durara pouco, por que ela trazia noticias as quais qualquer pessoa não queria ouvir...
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