Capítulo 14 - Resistência
Dois meses... Foi o tempo que as diversas relações entre o grupo liderado pelo baiano nascido em Salvador se estreitassem de forma até surpreendente para a maioria dos próprios tripulantes. Vitória e Cláudio engataram um relacionamento, afinal um sentia atração física pelo outro e era frequente escutar gemidos próximos à proa do navio – local onde ficava o quarto do capixaba. Pâmela treinava e treinava sobre a supervisão de Cássio, este sempre que podia ajeitava o arsenal conseguido por Vinícius à medida que esse último, volta e meia, conversava via rádio com as diversas resistências humanas.
Resistência. Nome dado aos diversos grupos humanos unidos em prol somente da sobrevivência. Tinha várias espalhadas em todo o país tendo como o único elo entre elas o famoso transportador de suprimentos. Por causa dele, pessoas desde Manaus a Rio Grande – nova capital do estado do Rio Grande do Sul – se comunicavam e trocavam informação. O papel daquele iate era crucial para a vivência em pequenas comunidades isoladas, pois com a dizimação quase que total da população, o litoral se tornou o melhor lugar a reconstrução da vida.
Só que existia muitas delas em conflitos de interesses umas com as outras. Rio e São Paulo não se davam bem, e a do Rio inclusive preferiu se isolar do resto do mundo. Claro que havia diversas outras no interior do continente, o problema era chegar até elas bem como o medo de Vinicius de adentrar no continente e ter muitas de suas coisas roubadas além de claro, ter que enfrentar a morte pedindo carona a ele.
Nesses dois meses de viagem em alto mar, ele refletiu sobre diversas coisas, incluindo em como ajudar mais, em como interferir mais na sobrevivência de sua raça, de sua espécie. Primeiramente, ordenou que Enzo – um amigo seu da época antes do apocalipse – conseguisse entrar em contato com o general Bruno, afinal este era conhecido do pai de seu amigo. Bruno, o qual já conhecia o famoso Vini, acatara o pedido de treinar duas garotas localizadas em sua área de proteção. Sendo que uma delas era uma divergente. Vinicius pegaria aquelas garotas com o objetivo de ir a segunda parte de seu plano.
O plano que viria depois, só existia dentro da cabeça do baiano que tinha conexões ocultas com Thanatos – o autoproclamado homem que iniciou a mutação enzimática do Krocodil H. O problema é que ele precisava de mais material humano...
– Cláudio, quando chegarmos à costa sul do estado de São Paulo – disse enquanto estendia um mapa sobre uma grande mesa no deque – Você e a Vit vão ter que descer.
– Por que Vini? – indagou Vitória ajeitando a alça da blusa.
– Ajudar certa resistência naquele local. Eu vou ir ao Sul pegar umas novas integrantes e volto para buscar vocês e dizer minha segunda parte no plano que envolve tornar o Brasil todo um só.
– Vini – começou Cássio ao pegar um lápis e circular os pontos marcados no mapa. Entre eles estavam as capitais dos estados brasileiros e algumas cidades no litoral – O litoral sul de São Paulo seria para onde fora a resistência da capital?
– Não. Foram para Santos – disse calmamente quando ligou à cidade portuária a nova cidade – Ilha Comprida e Iguape são onde a maioria está.
– Por que nessas cidades minúsculas de um estado populoso?
– Você ficaria na cidade grande, com quase dez milhões de mortos-vivos a sua cola, ou você ficaria numa cidade pequena, com apenas o quê, menos de três mil habitantes?
– Compreendo seu ponto... Mas o que tem lá de tão importante que merece a nossa atenção? – continuou Cássio. O restante parecia não ter conhecimento ou não querer se intrometer no plano.
– Uma resistência que cresce a cada dia. E se continuar crescendo precisará de suprimentos e certo direcionamento para que isso não se torne o massacre do Rio de Janeiro.
O massacre. O dia que mudou a vida de todos os integrantes daquele grupo... No mesmo dia em que a dupla Vinicius e Vitória salvaram o trio formado por Cláudio, Pâmela e Cássio, o Rio de Janeiro virou palco de guerra entre duas facções rivais. Uma delas lideradas por uma amiga sua, porém a cidade engulfou-se em chamas. Juno sobreviveu e as pessoas não tinham notícias a respeito de Júlia e muito menos de uma loira que perecera lutando contra o indígena, braço-direito da garota que encantava por sua beleza. E astúcia também.
Juno deu um relatório específico a Vinicius, ansiando por sua cooperação na reconstrução do Rio. O baiano se inclinou a ajudar, porém ele tinha que ficar de luto pela morte de Jaqueline enquanto buscava uma nova razão para continuar a busca por seus amigos e familiares bem como manter a sociedade brasileira unida. E encontrou essa resposta no Rio Grande. Em duas garotas. Uma que segundo relatórios constantes de Bruno, seria Divergente. Outra muito capaz, até mesmo que soldados dele. Marcela da Fontoura e Bianca Camolesi estavam praticamente prontas para o próximo estágio. O desaparecimento de Júlia e a morte de Jaqueline fizeram Vinicius trocar seu pensamento. Ele não queria só ajudar, ele queria mudar.
– Tudo bem. Você quer que a gente vá lá...
– Cláudio, há relatos que pessoas estão morrendo infectadas com algum vírus. Eu tenho medo, sim sou egoísta, mas você além de mim é outro divergente. Quero que pegue uma amostra e investigue a situação. Vitória te dará cobertura da costa, pois há um infame assassino que atrai suas vítimas a um local repleto de mortos-vivos. Matar ou morrer. Só que sempre sai ileso dos confrontos, desconfio que ele tenha algum reagente ao Kroc.
– Por que não eu ou a Pam? – indagou Cássio praticamente demandando ação depois de dois meses em alto mar, indo de portos em portos.
– Pam é mais fraca que a Vit. E eu preciso de você quando chegar ao Sul.
– Para?
– Você vai ver...
***
Anderson havia chegado a Mariana em cinco horas. Seu Hummer H3 tinha uma potencia estrondosa. Depois das informações dadas por Juno a seu amigo divergente Vinicius ele deduziu que ela fizera isso para enganá-lo. Júlia não morreria assim facilmente, bem como Jaqueline. A primeira fazia academia e com o apocalipse foi à primeira, a saber, lidar com a situação. Tinha noções de sobrevivência e isso foi mostrado na luta contra Alberto. Jaqueline o próprio Vinícius tinha dito que ela fizera Boxe e estava aprendendo Muay Thai na época que surgiram os primeiros casos de infectados pelo Kroc no Brasil. Era muito conveniente a Juno contar as mortes para uma pessoa que estava de fora e não percebia o que acontecia dentro da sociedade. Além disso, Vinicius poderia ter sido facilmente manipulado com um corpo loiro da altura da potiguar com a face queimada. Nunca tinham se visto e por causa disso o corpo não poderia servir de parâmetro. DNA era inexistente nessa época, portanto o soteropolitano foi levado a crer que ela tinha morrido.
Já ele sabia mais. Detinha mais conhecimento das situações que aconteceram. E ainda por cima, tinha Elaine. Ela forneceria a inteligência necessária, ainda que estivesse meio distorcida visto que a tortura realmente mexera com ela. Segundo estas informações compiladas, Júlia iria a Mariana em busca de mais dois sobreviventes e depois levaria os dois até o “obreiro” da vida. Seu amigo que fora enganado, Vinícius Ribeiro.
– Carol! – disse olhando para trás – Como está nossa pequena X-9?
– Bem na medida do possível.
– Vamos entrar na cidade e tocar o terror nela.
Logo ao entrar na cidade, o ronco forte do motor fez chamar a atenção de alguns zumbis facilmente abatidos pela força e peso do grande carro. O Hummer era utilizado por exércitos e poderia ter metralhadoras acopladas a seu teto grande e espaçoso suficiente a uma pessoa ter uma mira ampla e a comodidade de não ser atingido. E foi assim que Carol subiu ao topo do Hummer.
– Use a ponto cinquenta a seu dispor – disse ao dobrar uma curva íngreme com certa velocidade – Mate todos e não deixe vestígios. Quero a Jaqueline Saraiva, Elileudo Júnior e Júlia Dalboni aos meus pés
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