Capítulo 15 - Planos e Execuções
A resistência liderada por Bruno Portinari se gabava por ser a melhor em tudo. Treinamento. Revezamento de tarefas. Uma verdadeira nação com cerca de quase três mil membros todos treinados. Versados em muitas espécies de combate. Tudo para sobreviver frente a uma horda a qual era implacável com seus inimigos. Ao menos, o primeiro passo já havia sido dado por eles na medida em que esperava por notícias boas de um parceiro que andava a procura de diversas informações a respeito do vírus que atingira o mundo e em tempo recorde transformara uma sociedade altamente avançada tecnologicamente numa cujo avião era coisa do passado. O general utilizava os conhecimentos adquiridos a fim de reerguer parte da situação humana, porém era uma visão muito aquém de seu tempo.
Thanatos... Queria matar esse homem como os Estados Unidos tentaram fazer e falharam. O conselho dos treze estados, formados após a derrocada americana frente aos supersoldados do cientista maluco, tentou criar diversas formas para fazer pelo menos o povo americano lutar. Lutar contra um inimigo em comum. Lutar pela sua própria sobrevivência. Preferiam morrer como homens livres, capazes de discernir e ter opiniões do que meras máquinas comedoras de carne onde o único propósito era a aniquilação. O problema era que o conselho tinha rivais internos e externos e a fragilidade percebida por seus inimigos fora a derrocada.
Outrora uma potência, hoje era escombros de um passado glorioso. Rússia, China, Índia... Todos tiveram os mesmos destinos. Como se o caminho de todos estivessem entrelaçados inclusive no fim apesar de todas as divergências. Petróleo? Fontes de energia? Isso não importava mais a ninguém, todos eram vítimas da própria ganância e ego de querer sempre mais. O melhor. O egoísmo inato ao ser humano dito no livro “Riqueza das Nações” de Adam Smith era a verdade praticamente absoluta. Foi este sentimento que levou a criação dos supersoldados. Foi o sentimento de querer ser o maior que fez com que governos confiassem em um cientista com bases psicológicas perturbadas. Foi assim, que o mundo começou a entrar no verdadeiro caos...
O Apocalipse.
Evento descrito na bíblia. Somente um quinto da população mundial sobrevivia e esse número só fazia cair. O comandante bigodudo de meia idade não vislumbrava algo de bom, algo de interessante ao futuro da humanidade como era conhecida. Contudo, a esperança que quase morrera foi renascida com uma conversa com seu amigo nas duas únicas vezes que se encontraram pós o evento fatídico.
– Velho – disse Bruno ainda sem o bigode característico – Não conseguirei montar uma força capaz de resistir o ataque da horda.
– Lembra-se de como surgiu à humanidade? – disse o jovem Vinicius recostando-se no jipe utilizado pelo general.
– Não. Conte-me mais.
– A Humanidade teve seu início em mundo cheio de perigos e ameaças. Para sobreviver, buscamos auxílio na natureza como nenhum outro ser vivo. Com um início humilde, nos transformamos nas criaturas dominantes – O formado em economia pela federal do seu estado colocou as mãos em seu bolso - A partir do caos, descobrimos a força. Armados com este metal, as pessoas comuns conseguem derrubar tiranos e construir uma nova ordem mundial.
Essa sentença fez Bruno refletir na situação em que estava. Será mesmo que a esperança havia ido embora ou era somente um teste? Daqueles que a Natureza promulgava para ver se os seres humanos eram dignos de serem realmente os detentores ou se a ganância por mais fez a própria se voltar a eles? Essas perguntas permearam a mente do infame comandante à medida que conversava mais com seu amigo e companheiro de resistência.
– Uma coisa que eu sempre me recordo é uma frase do meu irmão Êvanes.
– Qual seria essa? Uma frase de efeito de novo?
– Acho que sim – Vinicius sorriu – A natureza não faz nada ao acaso. Os divergentes surgiram justamente para ir de encontro à enzima criada pelo Thanatos. E quem criou os criou?
– Ninguém...
– Não é ninguém. Simplesmente é a natureza brincando com a nossa cara - o baiano virou-se para seu barco – Se os divergentes morrerem, a culpa é da humanidade que não os protegeu. Mas acredito que mesmo com a morte de todos, nascerão novos. A Natureza dá essa oportunidade, cabe termos a esperança de mudar isso. Só voltamos à idade da pedra, vamos crescer novamente. Mesmo que eu ou você não iremos viver para contar a história.
– E o que você pretende fazer ao receber a ajuda da natureza?
– Ainda montarei num plano ideal. Mas sabia que eu fui procurar saber de informações do que está acontecendo na costa norte-americana?
– Não – Bruno caminhou em direção ao litoral inóspito do que viria a ser um porto no futuro – Como estão às coisas por lá?
– Péssimas – Vinicius só desviou o olhar para seu amigo – Mas eles lutam até o final. Podem ter somente um divergente vivo, mas eles realmente estão tentando mudar o mundo em que vivem.
– Se eles estão fazendo isso...
– Quem somos nós para não? Além disso, eu tenho uma base para um plano.
– Poderia me contar?
– Só o farei quando reunir os divergentes. Já disse que ainda montarei um plano ideal, só preciso das minhas premissas necessárias.
– Posso ajudar?
– Só mantenha o Enzo e o pai dele sobre seu controle direto. Podemos nos comunicar por eles dois.
Nos dias de hoje, Bruno – que recordara da conversa que teve – simplesmente montou com dificuldade o que todos pensavam ser algo de outro mundo. O homem era um excelente administrador e talvez realmente tivessem uma chance. Mas o que seria para o mundo um pequeno vilarejo quando a ameaça ainda batia a porta? Enquanto os zumbis e mortos-vivos vagassem pela terra, a humanidade estaria ameaçada. O que então fazer? Uma cura? E como usar para derrotar os sedentos de carne, afinal mordidas e arranhões ainda dilaceravam a pele e matavam realmente as pessoas.
Por isso o treinamento, sua equipe daria o suporte necessário a quaisquer planos que o “obreiro” teria em mente. Bianca e Marcela estavam praticamente prontas. Uma especializada em combate corporal e a outra especializada em armas de pequeno porte. Ele soube exaurir das duas um potencial tremendo. Se a primeira fosse divergente seria uma das mais poderosas, porém o general – agora bigodudo – sorriu de novo, quando se lembrou das palavras de seu amigo baiano.
“A natureza não faz nada ao acaso”
***
– Corram!
Foi o que disse Júlia ao entrar na Igreja e fechar a porta. Tiros ecoavam por toda a cidade de Mariana atraindo uma horda de diversos zumbis para a região.
– O que está acontecendo Ju?
A mineira localizada dentro da célebre catedral reconheceu a voz de longe.
– Um jipe está atirando para todos os lados – Julia esforçou-se para recuperar a respiração – E a Carol é que está em cima, atirando a esmo.
– Carol? Aquela que era a “esposa” do Anderson? – indagou Elileudo ainda tentando entender a situação.
– Sim... Eu vim aqui na cidade porque me disseram que você estaria aqui, principalmente agora que precisamos de um refúgio... Mas agora acontece isso.
– Então vamos falar com a Carol que somos amigos! – exclamou Isadora correndo em direção à porta.
– Esse é o problema...
– Qual?
– A Carol não é amiga...
– Por quê?
– Por que ela atirou na Jaque. E a nossa amiga está no porta-malas daquele carro sangrando. O tiro foi suficiente para fazê-la parar de andar e não matá-la...
Elileudo não poderia acreditar no que estava acontecendo. Como humanos poderiam enfrentar humanos? Era algo impensável. Já Isadora pareceu perceber algo que já vinha desconfiando desde o ataque de Thanatos a ela e a seu companheiro. Existiam humanos que queriam a aniquilação da própria raça e talvez Carol fosse uma dessas pessoas.
– E agora?
Quando o cearense disse isso, uma rajada de tiros irrompeu adentro da catedral destruindo a grande porta de madeira como se fosse papel. Após isso, a baiana parceira de Anderson Morais sorriu à medida que se distanciara com o jipe na visão da líder divergente fugida do Rio. Ela tomara sua distância por que sabia o que viria.
A horda.
E então, os três amigos teriam que sobreviver a uma rajada de tiros e a uma horda sedenta por sangue.
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