10 de jan. de 2015

Quem tem cacife pra falar de literatura?



Poesia de rede social, leitor de poema viral, poeta de twitter e compositor de cantada. Segundo Leminski, aos 17 anos todo mundo é poeta, e longe de mim discordar dele, mas até que ponto somos capazes de julgar e produzir literatura?

 Para além do canônico, há um gigantesco mar de controvérsias ao tentar definir o que é literatura, boa literatura. De um lado especialistas defendendo os cânones e a nossa clássica (e maravilhosa) literatura, do outro leitores de livros do John Green e Rick Riordan. E há, ainda, aqueles que defendem uma espécie de meio termo, que enxergam na literatura uma forma livre e viva de arte, em constante evolução e modificação.

O sucesso de Crepúsculo e Harry Potter, por exemplo, é um fenômeno inegável tanto para os especialistas quanto para os leigos leitores que acabam por "canonizar" tais obras em redes sociais próprias como o skoob. Dados registrados nesse mesmo site mostram que os sete livros de Harry Potter foram mais lidos que Dom casmurro, de Machado de Assis, que aparece na 17ª posição no ranking atual.

Existem também, os escritores das redes sociais que são alvos de fortes críticas por parte do público, especialistas e leigos, que entram em contato com o que chamamos de "Poesia Viral", um novo molde de produção poética que vem se popularizando cada vez mais através de páginas como Eu me chamo Antônio, 946-Poesia e Um Milhão.

Enquanto toda essa "nova literatura" bombardeia e arrebata novos leitores, o esquecimento dos clássicos e da literatura enquanto disciplina escolar atormenta os especialistas da área. Cada vez menos os testes seletivos, como vestibulares de universidades públicas, cobram questões que exijam um real conhecimento de obras literárias. O que tem acontecido é a contextualização histórica de determinadas escolas literárias ou análises gramaticais a partir de fragmentos dos livros. Dessa forma cada vez menos os alunos precisam conhecer, realmente, Machado de Assis, José de Alencar e Guimarães Rosa. Basta estudar História e gramática, pois a compreensão do todo geralmente é dispensável na resolução das questões elaboradas.

Entre a explosão de uma nova literatura e a possibilidade de um esquecimento da nossa literatura clássica, estão nossos leitores, que munidos de conhecimento teórico ou não, estão prontos para expressar suas opiniões, exercer o papel de críticos literários e fazer de novas propostas verdadeiros fenômenos de vendas. Não se pode negar o poder dessa multidão online e nem o imenso valor artístico e cultural dos cânones.

A história da literatura nos mostra que passamos por diversos tipos de "formas" e "conteúdos" para chegar aos nossos moldes atuais. E talvez o nosso maior problema seja julgar como boa literatura algo que está inserido em moldes passados. Aplicar nossa querida teoria literária, que percorreu décadas carregando o nome de gênios em seus conceitos, à produções atuais como poesia viral e determinadas sagas parece-me o mesmo que martelar um prego com uma laranja.

10 comentários:

  1. Julgar uma boa literatura no mundo de hj é muito difícil. Acho que o mundo literário nos dar liberdade para esbaldarmos no que nos faz bem :h. Ótimo texto.

    http://www.alicedissedesdisse.com.br/

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  2. Oi, Ana.

    Acho meio relativo a classificação de boa literatura, o que vejo muito em discussões por aí pelos grupos de facebook da vida. Gente defendendo que só é leitor de verdade quem já leu Assis, outros dizendo que estes não passam de pessoas desesperadas por se provarem como cultas ao conhecer clássicos. Eu acho que a literatura evolui com o tempo (e aqui não me refiro ao evoluir com o sentido de melhorar, mas sim como sinônimo de mudar); meus avôs viveram em uma época em que O Cortiço era a obra máxima da literatura, enquanto meus pais leram Nárnia e Senhor dos Anéis, até chegar em nós, que lemos Harry Potter. Alguns conseguem conviver com as três gerações, lendo Assis, Tolkien e Rowling, outros não. Mas acredito que isso jamais deveria definir quem é ou não leitor de verdade. Cada um de nós somos partes de um todo.

    Com carinho,
    Celly.

    http://melivrandoblog.blogspot.com

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  3. Ah, estou seguindo e curtindo vocês no fb.

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  4. Contemporânea ou clássica, best seller ou experimental, o que importa é ler... Parabéns pelo texto. Abraço! Wesley
    http://wesleyescritosebesteiras.blogspot.com.br/

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  5. Julgar a literatura é o mesmo que dizer Que MPB ( música popular brasileira) é Só Chico Buarque... Pra mim, MPB é música que o povo ouve, e literatura é o que o povo gosta de ler. o resto é detalhes...
    Bjs da Le
    Le Versos & Controvérsias

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  6. Adorei seu texto e assim como a Celly, acho que ninguém deve julgar "quem é um leitor de verdade" ou não. Também acho que a literatura vai mudando e se "adaptando" com o tempo e o meio onde vivemos.

    Beijos,
    lendoporamor.blogspot.com.br

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  7. Oi, tudo bem?
    Gostei muito do texto, hoje em dia quase ninguém lê um clássico, nas escolas também não há um incentivo para a leitura deles, na verdade nas escolas não há quase nenhum incentivo para leitura, algo tão importante, mas que é deixado de lado :c Voltando ao assunto dos clássicos, eu acho que eles nunca devem ser esquecidos, mas eles também não são os únicos livros que existem e vários deles não são tão legais para os leitores dessa época, né? Mas ler um clássico de vez em quando é bom, a pessoa tem que se permitir sair da zona de conforto o/

    Beijos :*
    Larissa - http://srtabookaholic.blogspot.com

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  8. Acho prefiro ficar no grupo do meio termo. Eu comecei a ler através da literatura brasileira, depois é que que fui conhecer os best-sellers. E gosto de ambos. Acho que não é porque você lê livros que pertencem ao cânone, que vai te fazer um bom leitor. E nem acho que devemos nos prender a obras que estão na lista do New York Times ou no que todo mundo já leu. É tudo uma questão de gosto e equilíbrio. E tem outra coisa, é claro que livros mais recentes vão despertar mais interesse. Afinal, eles estão mais próximos na nossa realidade, linguagem. Sei lá, pra mim a boa literatura é aquela que nos encanta e nos proporciona prazer e não cabe ao outro julgar ou criticar.

    http://blogconexoesliterarias.blogspot.com.br

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  9. Creio que a literatura evolui sim. Não creio que tenhamos que "odiar" esses novos tipos de leitura, como Harry Potter e afins. Basta não esquecer que houveram outros escritores, com obras, ao meu ver, muito mais importantes para a sociedade de época (e atual). Não tem problema ler Eu me Chamo Antônio se você também conhece e lê Jorge Amado, José de Alencar e cia. Eu acho! :)
    Adorei o blog. Sintam-se à vontade para conhecer o meu:
    http://contecomeuconto.blogspot.com.br/

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